A baixa cobertura de saúde primária e as limitações para armazenar imunizantes são alguns dos desafios para a expansão da vacinação em Angola.
O país está na lista das 20 nações com maior quantidade de crianças que não receberam nenhuma dose de vacina. No meio rural, 50% dos menores nunca foram imunizados.
Nesta Semana Mundial de Imunização, a ONU News conversou com o chefe de Saúde e Nutrição do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, em Angola, Frederico Brito.
De Luanda, ele falou de iniciativas e oportunidades para fortalecer a vacinação desde os níveis institucionais até o nível comunitário.
“Nas zonas urbanas está a crescer o setor privado de atendimento na área de saúde. Então é preciso que haja uma negociação com as entidades que providenciam serviços privados para que possam ter um pacote completo de cuidados de saúde primários, que incluam a vacinação. Portanto isso pode ser feito através de convênios com o governo, para que, de facto, esse direito básico das crianças angolanas, e também das mulheres, seja realizado através de toda rede sanitária que está disponível.”
Brito lembrou que Angola viveu um conflito de longa duração que destruiu a infraestrutura sanitária no nível periférico. Como resultado, a parcela da população coberta por serviços de saúde não passa de 60%.
Por outro lado, o especialista do Unicef aponta a oportunidade de alcançar mais crianças por meio da oferta de vacinação em toda a rede sanitária disponível, inclusive no setor privado.
Outro problema a ser enfrentado é a capacidade de armazenamento dos imunizantes. Apenas 60% das unidades de saúde dispõem de equipamento adequado de resfriamento para conservação das vacinas em baixa temperatura. Isso prejudica a oferta eficaz quando as crianças precisam.
Ele afirma que há compromisso do governo em aumentar, gradativamente, o percentual do orçamento do Estado investido em saúde de 7% para 15%.
“Antes mesmo da Semana de Imunização, houve a necessidade de fazer um engajamento mais alto, a nível do governo, no sentido de assegurar de que haja um esforço concertado de financiamento a nível da imunização e cuidados de saúde primários. Através de uma iniciativa, de um evento, que decorreu no ano passado, chamado o primeiro Fórum de Cuidados de Saúde Primária e Imunização. Portanto neste Fórum, houve oito compromissos que foram assumidos pelo governo a nível central, ministerial, portanto, Ministério das Finanças, Ministério da Saúde, e Ministério da Administração Territorial e também a nível das províncias e municípios no sentido de colocar em marcha ações que visam colmatar essa situação que Angola vive de elevado número de crianças zero dose e baixas coberturas vacinais.”
O especialista do Unicef explicou que os serviços em nível da comunidade ainda estão em processo de fortalecimento e que a rede de agentes comunitários é limitada.
Ele considera fundamental a discussão com as pessoas que recebem os serviços sobre barreiras que encontram para a vacinação, para criar serviços resilientes e adaptados às necessidades da população.
Como exemplo positivo, Frederico Brito mencionou a colaboração com líderes comunitários nas periferias para identificar crianças que não foram vacinadas.
O objetivo das ações do Unicef, junto com parceiros é reorganizar os locais de vacinação para que nenhuma criança fique descoberta.
Em Angola, 43% da população infantil não recebeu nenhuma dose de vacina em 2021. Antes da pandemia de Covid-19, as taxas de vacinação já se encontravam abaixo de 80%.
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